A IMAGEM E A ARTE COMO TERRITÓRIOS INTERDISCIPLINARES:
UM ESBOÇO SOBRE A ARTE DE MILTON TORTELLA (1)
por Mônica Hernandes – Curadora, Produtora Cultural, Profa. de História.
RESUMO DO TRABALHO:
O trabalho investiga como as imagens urbanas e artísticas revelam elementos simbólicos e identitários do homem contemporâneo. Sendo o símbolo uma construção social por excelência e presente em qualquer representação artística, a presente pesquisa concentra-se na análise da iconografia do artista paulistano Milton Tortella para dialogar com a cultura visual e a interdisciplinaridade entre a história da arte, a história cultural e a antropologia visual.
A imagem ao longo do tempo sempre foi objeto de constante investigação, em seu entendimento mais simplório podemos defini-la como toda visualização construída pelo homem. Neste cenário permeiam elementos simbólicos diversos, representativos de uma sociedade, e de uma identidade construída ou que se faz em construção mediante à essas interpretações e reconstruções imagéticas que constitui uma leitura diária da prática social.
A História da Arte sempre se valeu da utilização da imagem como instrumento desta contextualização, criando a base da mediação entre o criador e o espectador, tão apropriadas para a produção contemporânea. Através desta mediação há de se compreender a força da imagem em nosso cotidiano e também em sua decodificação individual que envolve o individuo em sua vivência e nas sua inter –relações. A mensagem da imagem constitui a absorção singular e complementar de seu meio.
Segundo Paulo Knauss (2000), a categoria de cultura visual permite, de um lado, expandir a história da arte ao integrar os objetos artísticos no mundo das imagens ou ao integrar o mundo das imagens no mundo das artes. De outro lado, porém, a categoria de cultura visual apresenta um modo de colocar novos desafios para a história da arte, redefinindo o próprio estatuto da arte como construção histórica e com variações que lhe conferem historicidade própria.
O símbolo é social por excelência, sempre se fez presente em qualquer representação artística através das linhas, cores, formas, sons, gestos, movimentos, entre outros. Desta forma, a iconografia deste trabalho pauta-se nas obras do artista Milton Tortella, paulistano, publicitário, desenhista, gravador, escultor e pintor, identificando elementos e características da realidade social que transcendem a idéia de tempo e lugar e que implica em inúmeras possibilidades de análises que vão além da estética ao transitar em questões que concerne a toda humanidade.
Sua trajetória a partir do desenho, tem no grafite sua entrada profissional no campo das artes, mais precisamente nos anos oitenta no cenário underground paulistano, escolhendo a pintura como sua principal forma de expressão, independente do suporte. O mundo do grafite é o centro urbano, seus suportes principais são os muros e os viadutos, a cor e a forma são os elementos principais da composição, sua interação com o cinza da cidade revela inquietudes sociais que ora se destacam pela força do traço e da cor e ora nos cala com a simples contemplação. Um movimento que nasceu em Paris com a contracultura em 1968 com caráter político poético, mas que nos remete aos tempos primitivos e a forma de expressão de época, onde temos a leitura da imagem como elemento de relação com o meio.
A temática urbana permeia o vasto campo de trabalho e pesquisa do artista, sua narrativa nos remete a contos, a cenários, a interpretações singulares em seus múltiplos aspectos, e tem papel primordial em sua abordagem e na relação com a realidade concreta presente na diversidade cultural, seja pelo espaço geográfico, político, econômico, religioso e social.
(1) III Seminário de Pesquisa da Estácio