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Distopia Afetiva, 2024–2025. Milton Tortella. Coordenação: arq. Helena Quintana Minchin. Mostra UMAPAZ . São Paulo - SP, Brasil.

Representações Opressoras Serão Anuladas (ROSA), 2021 Bola pula-pula, cinta para amarração de carga com catraca e argolas para parafusar. 58 x 270 x 40 cm

Representações Opressoras Serão Anuladas (ROSA), 2021

Representações Opressoras Serão Anuladas (ROSA), 2021

Representações Opressoras Serão Anuladas (ROSA), 2021

Representações Opressoras Serão Anuladas (ROSA), 2021

Representações Opressoras Serão Anuladas (ROSA), 2021

Representações Opressoras Serão Anuladas (ROSA), 2021

Vista da exposição Distopia Afetiva

Área de Risco #1, 1990–2020 30 Pins de metal esmaltado personalizados e madeira de lei. 180 x 40 x 12 cm e Área de Risco #2, 2010– 2020 Pins motivacionais de metal esmaltado personalizados e madeira de lei. 17 x 56 x 11 cm4

Área de Risco #2, 2010– 2020

Área de Risco #2, 2010– 2020 (detalhe)

Área de Risco #2, 2010– 2020 (detalhe)

Área de Risco #2, 2010– 2020 (detalhe)

Área de Risco #2, 2010– 2020 (detalhe)

Área de Risco #2, 2010– 2020 (detalhe)

Área de Risco #1, 1990–2020

Área de Risco #1, 1990–2020

Área de Risco #1 (1990–2020) e Área de Risco #2 (2010– 2020)

Vista da exposição Distopia Afetiva

Torrão, 2016 Acrílica e tela. 9 x 28 x 4.5 cm

Cápsulas, 2016 Acrílica maciça e tela. 28 x 9 x 5.5 cm

Cápsulas, 2016 Acrílica maciça e tela. 28 x 9 x 5.5 cm

Pacote I, 2016 Acrílica e tela. 15 x 22 x 5 cm

Pacote I, 2016 Acrílica e tela. 15 x 22 x 5 cm

Pacote I, 2016 Acrílica e tela. 15 x 22 x 5 cm

Pacote II, 2016 Acrílica e tela. 15 x 23 x 5 cm

Pacote II, 2016 Acrílica e tela. 15 x 23 x 5 cm

Especialidade, 2015–2016 Acrílica. 13 x 18 x 5 cm e Nicho, 2015–2016 Acrílica. 19.5 x 23 x 3 cm

Procedência, 2019 Embalagens e mata--moscas Dr. Skud descartadas, 3D lenticular, rebites e gancho de metal. 30 x 30 x 5 cm

Vista da exposição Distopia Afetiva

Monumento, 2024 Óleo sobre tela, plástico, cola e abraçadeira nylon. 325 x 220 x 20 cm (aproximadamente)

Monumento, 2024 Óleo sobre tela, plástico, cola e abraçadeira nylon. 325 x 220 x 20 cm (aproximadamente)

Monumento, 2024 (detalhe)

Monumento, 2024 (detalhe)

Monumento, 2024 (detalhe)

Monumento, 2024 (detalhe)

Monumento, 2024 (detalhe)

Monumento, 2024 (detalhe)

Monumento, 2024 (detalhe)

Sem título, 2015 Acrílica e caixa plástica de ovo. Tamanho variável

Sem título, 2015 (detalhe)

Sem título, 2015 Acrílica e caixa plástica de ovo. Tamanho variável

Vista da exposição Distopia Afetiva

Dr. Fausto, 2024 Embalagens descarta-das, cola, grampo e abraçadeira de nylon. 130 x 140 x 20,5 cm

Dr. Fausto, 2024 (detalhe)

Dr. Fausto, 2024 (detalhe)

Vista da exposição Distopia Afetiva

Série "Atmosfera"

Pintura Ambígua, 2016–17 Tinta acrílica. 26 x 22 x 3 cm

Atmosfera, 2018. Tinta acrílica. 33 x 19 cm

Atmosfera II, 2018 Tinta acrílica. 45 x 20 cm

Atmosfera II, 2018 Tinta acrílica. 45 x 20 cm

Atmosfera III, 2018 Tinta acrílica. 48 x 18 cm

Vista da exposição Distopia Afetiva

design gráfico, logotipo

Fotos: Augusto From

 


Distopia Afetiva
Milton Tortella

Coordenação: 

arq. Helena Quintana Minchin

A exposição Distopia Afetiva, de Milton Tortella, explora a tensão entre as memórias afetivas e um ambiente marcado por traços distópicos, ressaltando a passividade humana diante da normalização das ameaças climáticas. Apresentada na UMAPAZ — um espaço dedicado ao estudo e à formação ambiental e de cultura de paz —, a mostra reúne obras que discorrem sobre questões ecológicas e como as práticas sustentáveis cotidianas são uma gota em um oceano de conglomerados nocivos. As peças são fruto de um sistema de significação, desenvolvido a partir de uma coleção pessoal de objetos e embalagens coletados ao longo do processo de criação, método muito presente dentro da pesquisa do artista.

 

Esses símbolos passam por uma ressignificação e são transformados em obras de arte por meio da combinação de materiais e, em alguns casos, intervenções com camadas de pintura. Esse é o caso das obras: Representações Opressoras Serão Anuladas (ROSA), Cápsulas, Pacote I e Pacote II, Torrão, Nicho, Especialidade, Procedência, Sem título e Dr. Fausto. 

Os trabalhos escolhidos para coabitar neste ecossistema provocam quando tensionam as normas sociais, mesclando referências da vida concreta e da imaginária. Assim, o artista vai tecendo uma teia na qual o real e o irreal passam a conviver em uma distopia afetiva.

Distopia Afetiva adota a prática do colecionismo para arquivar e estabelecer significados, evocando a precariedade e inconveniência de nosso contexto atual, em contraste com a força da indústria e do capitalismo, que sobrepujam os esforços individuais de transformação. A exposição propõe uma coleção de símbolos que revelam a época do Antropoceno, marcado pelo consumo desvairado, em que valores e recursos são constantemente expropriados.

Ocupar a UMAPAZ – Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, um órgão gestor da Política Municipal de Educação Ambiental de São Paulo, acrescenta mais uma camada à apresentação dos trabalhos que compõem esta mostra. Em um momento em que a dialética sobre ecologia se impõe à agenda global em busca de um acordo em âmbito mundial para interromper a emissão de CO2 na atmosfera, se faz urgente frear o consumo em grande escala dos recursos naturais. Parece alarmante, mas é o que renomados cientistas, como é o caso do climatologista Carlos Nobre, têm afirmado: o mundo como o conhecemos está prestes a desaparecer.

Segundo um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o estuário de Santos, no litoral paulista, é um dos locais mais contaminados por microplásticos do mundo atualmente. Aqui, passamos a falar do teor afetivo. Santos foi o local onde Tortella passou suas férias durante a infância, em uma casa construída com as próprias mãos por seus pais, culminando em uma relação íntima com a praia a partir dessa vivência. O encontro dessa intimidade, dessa afetividade, com esse dado alarmante choca e obriga a rever e revisitar as memórias construídas, adicionando um fator distópico a elas. Considerando aqui distopia como a inversão à perspectiva de utopia, de forma que o prefixo grego “dys-” (mal ou dificuldade) com “topia” (lugar) apontam para uma utopia ruim ou lugar indesejável, uma contra-utopia, a qual desqualifica qualquer projeção de um futuro que desconsidere as possibilidades postas pelo presente(1).

 

Foi esse contexto que originou o trabalho Monumento. Com uma instalação composta por três pinturas a óleo de praias brasileiras, alinhadas pela linha do horizonte, sobrepostas por 411 embalagens de ovos vazias que cobrem parcialmente as telas, evidenciando a ausência de seu conteúdo: o ovo — um símbolo de nascimento em várias culturas2. A translucidez das embalagens distorce a visão das águas e da areia, instigando o observador a se aproximar e explorar a imagem. Aqui, fica escancarada a provocação sobre a consequência possível a partir da negação da urgência em que esse assunto se apresenta, gerando uma “distopia ecológica”(3).

 

Ainda dentro da afetividade que esse conjunto de obras propõe, as praias escolhidas também refletem a memória do artista: Itapuã em Salvador, evocada pela música de Vinicius de Moraes; a Enseada no Guarujá, ligada à sua infância; e o Cachadaço em Trindade, representando o início do ativismo ecológico nos anos 1980. Os trabalhos promovem um diálogo sobre o impacto ao meio ambiente, em meio à desinformação e ao poder econômico, que inibe as mudanças ambientais urgentes e opera a “Necropolítica”(4). Além de degradar a Terra em larga escala, essa prática tenta transferir a culpa para o cidadão comum ao ignorar a responsabilidade e o impacto devastador dos grandes conglomerados.

 

Os trabalhos Área de Risco #1 e #2 utilizam objetos do mundo corporativo que comumente identificam e orientam pessoas, fixados sobre pedaços de madeira. Em Área de Risco #1, esses elementos, que representam marcas de empresas e entidades, são cravados em um pedaço de madeira de lei, adquirido nos anos 1990 na rua do Gasômetro, em São Paulo. Os pins corporativos são dispostos nos pontos básicos indicados em gabaritos de corte de toras de madeira, frequentemente utilizados na construção civil. Já em Área de Risco #2, a peça de madeira, recuperada de uma árvore derrubada pela natureza na Serra da Mantiqueira, recebe diversos pins com a inscrição “performance”.

 

A série Atmosfera, que encerra a exposição com os trabalhos Pintura Ambígua e Atmosfera I, II e III, explora a desconstrução da formalidade da pintura, libertando-a da tela. Dialoga com a busca de Leonardo da Vinci, que afirmou: “O objetivo fundamental de um pintor é o de exibir um corpo em uma superfície plana como se tivesse sido modelado e separado daquele plano. Este feito coroa a ciência da pintura”(5). Atmosfera representa a renúncia ao objeto de arte como usualmente visto, incentivando o desprendimento e a aceitação da vulnerabilidade do próprio material.

 

Distopia Afetiva incita a reflexão sobre qual legado estamos deixando para nossa casa, em que mundo queremos viver, como nos fazemos enxergar, ou não, as contradições distópicas presentes em nossas memórias de ternura.

De 3 dez. 2024 a 10 jan. 2025

Local: Mostra UMAPAZ

UMAPAZ. Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz. Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.

Av. IV Centenário, 1.268 (Portão 7A do Parque Ibirapuera), Jardim Luzitania, São Paulo - SP

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1. Corpo editorial. Sexta-feira, São Paulo, p. 9, 2001.

2. LEXIKON, Herder. Dicionário de Símbolos, p. 672. Cultrix, São Paulo, 1978.

3. Expressão tirada do título da obra de Henyo T. Barretto Filho, Utopias tecnológicas, distopias ecológicas e contrapontos românticos:
“populações tradicionais” e áreas protegidas nos trópicos (2001). Sexta-feira, São Paulo, p. 139-151. 2001.

4. Necropolítica é um conceito criado em 2003 pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, que expõe como, nas sociedades capitalistas,
o Estado determina quem tem o direito de viver e quem é destinado à morte. MBEMBE, Achille. Necropolítica. 3ª ed. São Paulo: n-1 edições, 2018.

5. ISAACSON, Walter. Leonardo Da Vinci. Intrínseca, Rio de Janeiro, 2017. Grifo do autor. p.60.

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